Saturday, November 27, 2010

O velho, o menino e a mulinha

Eu era uma criança, devia estar na 3º ou 2 º serie do ensino fundamental quando lemos a historia abaixo, mas por algum motivo que não me lembro qual é, nunca mais esqueci sendo assim aproveitando que estou em uma fase bem menos autoral divido a fabula com vocês.


O velho, o menino e a mulinha por Monteiro Lobato.


O velho chamou o filho e disse: - Vá ao pasto, pegue a mulinha e apronte-se para irmos à cidade, que quero vendê-la.

O menino foi e trouxe a mula. Passou-lhe a raspadeira, escovou-a e partiram os dois a pé, puxando-a pelo cabresto. Queriam que ela chegasse descansada para melhor impressionar os compradores.

De repente: - Esta é boa! - exclamou um visitante ao avistá-los. - O animal vazio e o pobre velho a pé! Que despropósito! Será promessa, penitência ou caduquice?...

E lá se foi, a rir.

O velho achou que o viajante tinha razão e ordenou ao menino: - Puxa a mula, meu filho! Eu vou montado e assim tapo a boca do mundo.

Tapar a boca do mundo, que bobagem! O velho compreendeu isso logo adiante, ao passar por um bando de lavadeiras ocupadas em bater roupa num córrego.

- Que graça! - exclamaram ela. - O marmanjão montado com todo o sossego e o pobre do menino a pé... Há cada pai malvado por este mundo de Cristo... Credo!...

O velho danou-se e, sem dizer palavra, fez sinal ao filho para que subisse à garupa.

- Quero só ver o que dizem agora...

Viu logo. O Izé Biriba, estafeta do correio, cruzou com eles e exclamou: - Que idiotas! Querem vender o animal e montam os dois de uma vez... Assim, meu velho, o que chega à cidade não é mais a mulinha; é a sobra da mulinha...

- Ele tem toda razão, meu filho; precisamos não judiar do animal. Eu apeio e você, que é levezinho, vai montado.

Assim fizeram, e caminharam em paz um quilômetro, até o encontro dum sujeito que tirou o chapéu e saudou o pequeno respeitosamente.

- Bom dia, príncipe!

- Porque príncipe? - indagou o menino.

- É boa! Porque só príncipes andam assim de lacaio à rédea...

- Lacaio, eu? - esbravejou o velho. - Que desaforo! Desce, desce, meu filho e carreguemos o burro às costas. Talvez isso contente o mundo...

Nem assim. Um grupo de rapazes, vendo a estranha cavalgada, acudiu em tumulto com vaias: - Hu! Hu! Olha a trempe de três burros, dois de dois pés e um de quatro! Resta saber qual dos três é o mais burro...

- Sou eu! - replicou o velho, arriando a carga. - Sou eu, porque venho há uma hora fazendo não que quero mas o que quer o mundo. Daqui em diante, porém, farei o que manda a consciência, pouco me importando que o mundo concorde ou não. Já que vi que morre doido quem procura contentar toda gente...

MORAL: "Não sei o caminho do sucesso, mas com certeza o do fracasso é querer agradar a todo mundo"

Monteiro Lobato

In: Fábulas

Editora Brasiliense, 1972


Sunday, November 21, 2010

DIVERSIDADE


Eu celebro o direito de ser quem sou.

De pensar como penso, e ver como vejo.

Celebro minha singularidade.



Pedaço, partícula, célula.

Pequenos edifícios que formam uma cidade.

A isso chamo Diversidade.



Repudio a tirania da homogeneidade.

Vivo cada instante do meu ser.

Celebro minha liberdade

Wednesday, November 17, 2010

Canção do exílio

Domingo passado voltando do show da Norah Jones em São Paulo vi numa das estações do metro este poema e me lembrei que minha avó recitava a primeira estrofe para mim quando eu era pequeno, sendo assim , resolvi compartilhar... aí vai.


Canção do exílio

"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."

Friday, November 5, 2010

Semeadura

Minha vida se faz ao semear.

Todos os dias sem nunca desanimar.

Lanço minhas sementes

Com o novo dia a raiar.


Só quem vive entende a semeadura.

A fé de quem vive a eterna investidura.

No solo, que guarda em silencio.

Broto , planta, pura.