Em terras não tão longínquas um jovem agricultor levantou-se de sua cama como em todos os dias pela manha estando os primeiros raios de sol ainda a despertar. O jovem levanta-se decido senta-se a mesa, toma o desjejum costumeiro, fita o céu por um momento e vai ao trabalho.
Homem da terra, rústico e austero apesar da pouca idade, ávido pelo trabalho e de pouca fala, era o jovem também ateu, cria em seu trabalho, no suor de seu rosto e naquilo que era visível e palpável.
O jovem vivia com sua mãe e irmã e era o responsável pelo sustento do lar, desde o arar da terra até a venda das hortaliças na feira da cidade e a administração do dinheiro em casa.
Era comum vez por outra ouvir mãe e filho divergirem.
“ Menino, tenha mais fé pois Deus é quem abençoa o trabalho de suas mãos” dizia a mãe na esperança de que o filho se tornasse um homem de fé.
“ Eu tenho fé, mas se eu não levantar cedo para trabalhar Deus não terá nada que abençoar” respondia de pronto.
Os dias foram passando e a chuva não chegava, o solo aos poucos começa a sentir a falta da chuva, as plantas aos poucos começam a demonstrar que necessitavam de agua, as pastagens ao redor começam a perder a tonalidade verde, os pequenos lagos começam a encolher e aos poucos a região foi tomando outra forma, outra cor.
Os trabalhadores da região entram em estado de alerta, as famílias aos poucos necessitam andar para procurar agua pela região para seus animais e plantas e até para necessidades domesticas.
Por algum tempo o poço e o açude ajudaram o jovem, mas a situação estava em seu limite, pois sem as plantas não haveria o que vender e consequentemente não haveria dinheiro. A preocupação tomava o lugar do sono do jovem agricultor, temia por sua família muito mais por si.
“ Meu filho, tenha fé, Deus não permitirá que passemos necessidade” dizia a mãe sempre cautelosa e serena, o filho não lhe respondia palavra, seu silencio porém estava longe de sinalizar concordância ou consentimento.
Certa noite estava o jovem a andar pelo campo que tanto trabalho lhe dera para lavrar quando mesmo na escuridão deu-se conta de que não estava só, seu impeto foi sacar sua faca e virar-se rapidamente.
O homem diante dele sorriu e não demonstrou medo ou apreensão diante da arma em punho do jovem.
- Quem é você ? O que faz em minha terra ? - Disse o jovem.
- Sua terra ? O que faz você pensar que esta terra é sua?
-Vivo aqui desde que nasci com a minha família, herdei esta terra do meu pai e trabalho nela desde que nasci, construí estas cercas junto com meu pai antes dele morrer, quem é você ?
O homem diante dele se aproximou e com voz mansa disse.
-Eu tenho estado por um longo tempo, posso lhe dizer que estive aqui quando esta terra foi criada, quando a primeira relva cresceu aí mesmo onde você está pisando.
-Por que a faca, eu ofereço algum perigo? - O estranho mantinha a fala mansa e branda.
-Não quero estranhos na minha terra – A fala mansa e confiante do estranho despertavam tanto medo quanto desconfiança.
-Você confia mesmo que esta terra é sua, então porque deixa suas plantas morrerem sem agua?, você não percebe que a terra está seca ?
-Por onde tem andado nos últimos tempos que não soube do período de seca, toda a terra esta seca, não chove a tempos.
-Mas se me diz que a terra é sua, você devia ter cuidado dela, deveria ter regado.
-Vou perguntar pela ultima vez, quem é você e o que quer nas minhas terras.
-Eu sempre estive aqui meu jovem, sempre vivi nestas terras e todos esses anos e hoje em especial eu vim compartilhar isso com você. Todas as manhas quando levantava para lavrar sua terra, quando colhia seus frutos e os vendia para sustentar sua família, você nunca esteve sozinho , mesmo quando seu pai morreu e você era bem jovem.
-Você olha sua terra seca e morrendo cada dia, mas posso lhe dizer que um coração sem fé é semelhante a esta terra que você vê.
-Eu creio no que vejo, no que toco e no que consigo com o suor do meu trabalho.
-Façamos um trato, eu lhe esperarei aqui amanhã neste mesmo horário, e você me dirá como foi o resultado do teu trabalho.